Motivação Link para o cabeçalho
Dado o péssimo desempenho da Seleção Brasileira nos gramados em 2023, eu me perguntei se este poderia ser considerado um dos anos com piores desempenhos da história para nossa seleção. Para determinar isso, decidi encontrar resultados históricos da canarinho para determinar se isto é ou não verdade. Abaixo mostro como fiz isso.
Obtenção e Preparação dos Dados Link para o cabeçalho
Graças a Marcelo Leme de Arruda, que prepara e mantém o histórico de jogos da Seleção no site RSSSF Brasil, foi muito fácil conseguir os dados que eu queria. Eu baixei informações sobre cidade, pais, data, número de gols marcados eplo Brasil, número de gols marcados por cada oponente, oponente e tipo de jogo para cada um dos 1041 jogos oficiais da seleção desde 20/09/1914.
Após a limpeza mostrada abaixo, em que deixei os dados no formato em que queria, pude proceder com a minha análise.
library(tidyverse)
theme_set(theme_minimal())
selecao_brasileira <- read_csv2(file = "dados/selecao_brasileira.csv")
# preparacao dados
selecao_brasileira <-
selecao_brasileira |>
# separar cidade e pais
mutate(cidade = str_split_i(selecao_brasileira$local, pattern = ",", 1)) |>
mutate(pais = trimws(str_split_i(selecao_brasileira$local, pattern = ",", 2))) |>
select(-local) |>
relocate(cidade, pais) |>
# formatar datas
mutate(data = dmy(data))
Desempenho da Seleção em 2023 Link para o cabeçalho
Não sei se foi a ressaca da Copa de 2022, com a desclassificação para a Croácia nas Quartas de Final e o campeonato da Argentina, mas eu estava com a impressão que o ano de de 2023 foi péssimo para a nossa seleção.
Para determinar isso, peguei o resultado de cada partida e atribuí 3 pontos para vitórias, 1 ponto por empate e 0 para cada derrota (sei que no passado vitória valia 2 pontos em vez de 3, mas usei o critério atual de 3 pontos por vitória para todas as partidas a título de simplificação). Também mantive apenas os anos em que a seleção jogou pelo menos 5 partidas:
# desempenho anual
# pontuacao por jogo
pontuacao <- function(gols_brasil, gols_oponente){
ifelse(
gols_brasil > gols_oponente, 3, ifelse(
gols_brasil == gols_oponente, 1, 0)
)
}
selecao_brasileira |>
mutate(pontos = pontuacao(gols_brasil, gols_oponente)) |>
mutate(ano = year(data)) |>
select(pontos, ano) |>
group_by(ano) |>
mutate(jogos_anuais = n()) |>
filter(jogos_anuais >= 5) |>
mutate(desempenho = sum(pontos)/(3*jogos_anuais)*100) |>
slice_head(n = 1) |>
arrange(desempenho) |>
head(10) |>
select(ano, jogos_anuais, desempenho) |>
kable(format = "html",
col.names = c("Ano", "Jogos", "Desempenho")) |>
kable_styling(full_width = FALSE, bootstrap_options = "striped")
Ano | Jogos | Desempenho |
---|---|---|
1940 | 7 | 23.80952 |
1923 | 6 | 33.33333 |
2023 | 9 | 37.03704 |
1963 | 18 | 44.44444 |
2001 | 20 | 46.66667 |
1990 | 11 | 48.48485 |
1946 | 7 | 52.38095 |
1971 | 7 | 52.38095 |
1983 | 14 | 52.38095 |
1942 | 6 | 55.55556 |
Con isso, vemos que o ano de 2023 foi o terceiro PIOR ano de aproveitamento da seleção, ganhando apenas 37% dos pontos conquistados. Considerando o critério de 3 pontos por vitória, um aproveitamento anual inferior a 40% dos pontos disputados não acontecia desde 1923.
A título de curiosidade, se considerarmos as melhores temporadas da seleção, os anos de 2002 e 2018, anos do penta e da derrota na Copa da Rússia, empataram como os anos com o quinto melhor desempenho da história, sendo melhores do que anos em que vencemos outras copas do Mundo, como 1958, 1970 e 1994.
selecao_brasileira |>
mutate(pontos = pontuacao(gols_brasil, gols_oponente)) |>
mutate(ano = year(data)) |>
select(pontos, ano) |>
group_by(ano) |>
mutate(jogos_anuais = n()) |>
filter(jogos_anuais >= 5) |>
mutate(desempenho = sum(pontos)/(3*jogos_anuais)*100) |>
slice_head(n = 1) |>
arrange(desc(desempenho)) |>
head(10) |>
select(ano, jogos_anuais, desempenho) |>
kable(format = "html",
col.names = c("Ano", "Jogos", "Desempenho")) |>
kable_styling(full_width = FALSE, bootstrap_options = "striped")
Ano | Jogos | Desempenho |
---|---|---|
1961 | 5 | 100.00000 |
1969 | 9 | 100.00000 |
1962 | 12 | 94.44444 |
1976 | 10 | 93.33333 |
2002 | 15 | 88.88889 |
2018 | 15 | 88.88889 |
1949 | 8 | 87.50000 |
1997 | 24 | 87.50000 |
1952 | 5 | 86.66667 |
1958 | 10 | 86.66667 |
Amistosos em Casa Link para o cabeçalho
Além do desempenho pífio de 2023, eu tinha a impressão de que o Brasil tem jogado muito poucos amistosos em casa. Graças ao meu amigo Fabrício Kichalowsky, tomei conhecimento da Brasil Global Tour. Segundo a Wikipedia, esta iniciativa foi
um pacote de todos os amistosos da Seleção Brasileira desde outubro de 2012 até a Copa do Mundo de 2022.
Ou seja, a CBF vendeu os direitos dos jogos da seleção para a empresa Pitch International, que decidiu quais seriam os melhores lugares para a seleção jogar. Entenda-se “melhores” como aqueles que provavelmente dão mais lucro para os organizadores, e não necessariamente aqueles em que o povo brasileiro vai ver mais a seleção.
Desta forma, ficamos com o seguinte gráfico comparando o número de amistosos anuais da seleção brasileira jogados no Brasil e no Exterior. Perceba que limitei os resultados para serem exibidos apenas a partir de 1960, que foi quando a seleção passou a jogar mais amistosos anuais:
# partidas em casa
amistosos <-
selecao_brasileira |>
filter(tipo == "Friendly") |>
mutate(local = ifelse(pais == "BRA", "Brasil", "Exterior")) |>
mutate(ano = year(data)) |>
filter(ano >= 1960) |>
group_by(ano, local) |>
count() |>
ungroup() |>
complete(ano = 1960:2023, local, fill = list(n = 0))
ggplot(amistosos, aes(x = ano, y = n, colour = local)) +
geom_line() +
scale_x_continuous(breaks = seq(1960, 2020, 10)) +
scale_y_continuous(breaks = seq(0, 10, 1), minor_breaks = NULL, limits = c(0, NA)) +
labs(x = "Ano", y = "Número de Partidas", colour = "Local", title = "Amistosos da Seleção Brasileira", subtitle = "Jogos Anuais de acordo com o Local da Partida") +
scale_colour_viridis_d(direction = -1)
Note no gráfico anterior como há diversos pontos iguais a zero, ou seja, anos em que nenhum amistoso foi jogado ou no Brasil, ou no Exterior. Aparentemente, anos com nenhum amistoso jogado no Brasil ficaram mais comuns a partir do ano 2000, como podemos ver na tabela abaixo:
amistosos |>
filter(local == "Brasil") |>
filter(n == 0) |>
kable(format = "html",
col.names = c("Ano", "Local", "Número de Partidas")) |>
kable_styling(full_width = FALSE, bootstrap_options = "striped")
Ano | Local | Número de Partidas |
---|---|---|
1963 | Brasil | 0 |
1964 | Brasil | 0 |
1967 | Brasil | 0 |
1975 | Brasil | 0 |
1988 | Brasil | 0 |
2000 | Brasil | 0 |
2003 | Brasil | 0 |
2004 | Brasil | 0 |
2006 | Brasil | 0 |
2007 | Brasil | 0 |
2009 | Brasil | 0 |
2010 | Brasil | 0 |
2016 | Brasil | 0 |
2018 | Brasil | 0 |
2020 | Brasil | 0 |
2021 | Brasil | 0 |
2022 | Brasil | 0 |
2023 | Brasil | 0 |
Entre 1960 e 1999, foram apenas cinco anos (1963, 1964, 1967, 1975 e 1988) em que o Brasil não jogou nenhum amistoso em casa. OuDesde 2000, foram 13 anos assim. Ou seja, mais da metade dos anos entre 2000 e 2023 (13 em 24) não viram um amistoso sequer da seleção brasileira no Brasil.